Jean Duarte, o “Marrentinho”, um dos nomes da geração passada do MMA gaúcho
Lá no início do MMA gaúcho os eventos eram escassos, lutávamos uma vez por ano, em alguns casos, com adiamento de um ou outro evento. Lutávamos com intervalo de um ano e meio ou até dois anos.
Meu mestre, Valcir Almeida, decidiu então formar um evento que diminuísse essa lacuna competitiva de nossa equipe, então surgiu assim o Parabellum Fight Night e na linha dele o Furya MMA. Formado na junção de ideias do meu mestre com o “Announcer” Márcio Curi, figura controversa da cidade de Pelotas, mas extremamente carismático e comunicativo. Estando, no meu ponto de vista, até a frente de seu tempo no que se tratasse da função de anunciador de lutas, um verdadeiro “show man”.
Mas enfim, no Furya MMA no dia 18 de Dezembro de 2010 eu colidi dentro de um ringue com Jean Duarte o “Marrentinho”, como era sua alcunha esportiva. Eu indo para minha 6ª luta profissional, algo que naquele tempo, pelo espaçamento de tempo entre os eventos e ainda muito recente surgimento tornava meu cartel já expressivo, e Jean entraria para sua estreia no MMA.
Naquela noite, felizmente não subestimaria meu adversário e subindo muito bem preparado, tive meu divisor de postura, mostrando a mim mesmo que era capaz de lutar por três rounds de uma verdadeira guerra.
Ali me provei no fogo de uma guerra contra um garoto crescido órfão de pai, em uma família conturbada que encontrou no esporte uma maneira de aproveitar sua ferocidade. Sua revolta contida, um oposto de mim, um agressor nato, me lembro de queda-lo e ainda ser ser agredido com cotoveladas que machucavam minha cabeça. E em uma decisão dividida e até contestada da época eu o venci, mais tarde o próprio me daria o benefício da certeza da vitória naquela noite.
Três meses adiante, no evento Fury Factor em Pelotas, seria a vez do parceiro de equipe Magno Leonardo lutar com Jean, porém, uma semana antes Magno viria a se lesionar o impedindo de seguir com o compromisso, eu como de minha postura competitiva, aceitei entrar no combate, nesse Jean me venceu, em uma tentativa de manter a “meia guarda”, acabei deslocando a patelar do joelho direito. Mas vou ser franco que mesmo com o treinamento feito como deveria e caso não tivesse me lesionado, não sei se teria naqueles três meses depois a mesma eficiência que me deu a vitória sobre o prodígio.
Jean Duarte depois lutou mais 4 vezes, vencendo toas as vezes. Em 2014 um semana antes da graduação no Jiu Jitsu, em um treino teve um inesperado e extremamente raro acidente rompendo o ligamento cruzado exterior do joelho, o afastando desde então daquilo que seria na sua perspectiva a única saída de uma vida conturbada, o esporte.
Jean teve antes de entrar para o MMA, passagem pelo futebol de base na cidade de Pelotas, passagem pelo Muay Thai e era naquele período assíduo ao Jiu-Jitsu, hoje longe do esporte de combate Jean Duarte marcou sua passagem sendo sem dúvida nenhuma um dos maiores prodígios que enfrentei. Se formou em Filosofia pela UFPEL, pai de uma menina que parece feita para ser o personagem principal de uma história da Disney, tem uma linda esposa, sendo um homem que foge de qualquer estereótipo acomodado de homens com sua origem, teria todas as justificativas para ser menos, e se vitimizar com as poucas oportunidades e azares.
Jean é a prova do que sempre digo, somos muito mais que números em um cartel. Somos aquilo aqueles que são obrigados a se enfrentar após um derrota na frente de todos, se reinventar após uma lesão.
Minha história é fantástica única e exclusivamente por ser ligado a lutadores da vida.
Lutar pra viver, viver para lutar.
O que um lutador faz depois que para de lutar? Leia aqui.
*Esse texto não reflete necessariamente a opinião do Peleia MMA