Lesões em membros superiores são relativamente comuns em lutadores, vamos entender como elas ocorrem
Os esportes de luta podem ser divididos em grupos distintos, considera-se as similaridades entre as técnicas utilizadas. As lutas de striking são aquelas em que se utilizam golpes traumáticos, como socos, chutes, cotoveladas ou joelhadas. Exemplos são muay thai, caratê e boxe inglês. Já as modalidades de grappling são aquelas baseadas em lutas ditas corpo a corpo, tipo agarradas ou de solo, incluindo aquelas em que se usam técnicas de finalização ou submissão. Exemplos são jiu-jitsu e judô.
Quando se fala de artes marciais mistas (MMA), há uma mistura dos gêneros e de técnicas de outras modalidades de lutas (como as de grappling e striking). Como consequência, verifica-se também a associação desses distintos mecanismos de trauma com consequente semelhança de lesões variadas em um mesmo atleta. Lutas de MMA, em que há maior predominância do striking, estão mais associadas a lesões da face, das mãos e em algumas delas, dos membros inferiores. Já nas lutas em que há predomínio da submissão ou do grappling, as lesões articulares são mais frequentes, notadamente do ombro, do cotovelo e do joelho.
Conforme pesquisa realizada nos departamentos de emergência, verificou que, entre os anos de 2013 e 2018, foram diagnosticadas 39.181 lesões decorrentes da prática de jiu-jitsu, judô e MMA. A incidência verificada em cada região anatômica dos membros superiores foi variável, de acordo com a luta praticada.
Considerando-se apenas as lesões dos membros superiores relacionadas às artes marciais e aos esportes de combate, a articulação do ombro é a região mais acometida, seguida das mãos e dos dedos.
A luxação acromioclavicular é uma lesão frequente na prática dos esportes, entre eles, judô, jiu-jitsu e MMA. Os fatores mais comuns são a queda sobre a mão espalmada ou o trauma sobre o ombro.
Subdivide-se em seis tipos: os tipos I e II são tratados de maneira não invasiva, enquanto os tipos IV a VI geralmente têm indicação de tratamento cirúrgico. O tipo III é o que entra em maior discussão de tratamento, onde diversos estudos têm demonstrado bons resultados com tratamentos conservadores, similares aos alcançados com o tratamento cirúrgico.
Instabilidade do Ombro
O ombro possui maior ADM, ( Movimento de Amplitude Articular), o que o torna mais suscetível a desenvolver quadros de instabilidade, como luxações ou subluxações. Entre os tipos de instabilidade, as que ocorrem no sentido anteroinferior são as mais comuns. As modalidades de luta que expõem os atletas a um maior risco de luxações do ombro são: jiu-jitsu e MMA, em que, frequentemente, se utilizam técnicas de submissão em que o atleta posiciona seu ombro dessa maneira para projetar o oponente durante algumas técnicas de entradas de quedas. O maior risco também pode ocorrer em lutas de striking, como o boxe, em que se utilizam posicionamentos similares, como na técnica de soco chamada overhand.
Lesão tendão/músculo peitoral maior
O músculo peitoral maior é um forte adutor do ombro, além de contribuir também para a sua rotação medial e flexão anterior. Esse músculo é composto por duas porções: a esternocostal e a clavicular.
Atualmente, cerca de 75% das lesões do tendão e do músculo peitoral maior estão associadas diretamente à prática de atividades físicas, sendo o jiu-jitsu responsável, por até 10% do total de casos, outras modalidades de esporte de combate (como wrestling MMA) estão frequentemente associadas a essas lesões.
Lesões do cotovelo
Diversas técnicas de submissão aplicadas no jiu-jitsu, judô e MMA expõem o cotovelo a posições de hiperextensão associada a valgo, como é o caso do armlock. Essas técnicas podem resultar em lesões agudas ou estiramentos do ligamento colateral ulnar, levando à frouxidão das estruturas mediais da articulação. A frouxidão pode resultar em quadros de instabilidade em valgo do cotovelo, o que expõe o nervo ulnar a lesões por estiramento, compressão contra o sulco ou até mesmo subluxações dessa estrutura. A rigidez associada à osteoartrite do cotovelo pode resultar em menor capacidade de o atleta resistir à técnica, resultando na perda do combate.
A osteoartrite de cotovelo
Bastante comum em atletas de MMA. Os mesmos costumam conviver bem com os sintomas álgicos e acabam procurando atendimento apenas quando começam a observar perda progressiva e gradual da ADM.
Uma queixa recorrente é a diminuição do alcance dos socos (como os jabs) secundária à perda gradual da extensão, o que acaba obrigando o atleta a se aproximar mais do seu oponente e se expor mais a contragolpes.
A perda de extensão do cotovelo também acaba fazendo com que os atletas de MMA tenham menos capacidade de resistir a tentativas de finalizações baseadas em alavancas, como armlocks.
Lesão de mãos e punho
Estudos com utilização de avaliações clínicas e por ressonância magnética demonstraram que os praticantes de MMA apresentaram maior número de lesões degenerativas nessas regiões do que praticantes de outras modalidades.
Fratura do boxer
As chamadas fraturas do boxer são assim denominadas porque são lesões dos metacarpianos que ocorrem, com relativa frequência, como resultado de socos desferidos sobre superfícies rígidas. No MMA, é esperado que as fraturas do boxer sejam muito frequentes.
Lembrando que a prevenção é a melhor maneira de manter a saúde do corpo e evitar lesões.
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Sobre Margarete Bernstein
Quiropraxista – ABQ 1039 – Pós Graduação em Cinésiologia Biomecânica e Treinamento Desportivo e Pós Graduação em Reabilitação de Lesões e Doenças Musculoesqueléticas. Atendendo em Porto Alegre – RS, maiores informações e agendamentos pelo telefone 51 99934-2411 ou clique aqui.